Porque um escritor deve ter um diário segundo Virgínia Woolf

por Caroline Stampone


Virgínia Woolf não somente escreveu um diário. Ela também refletiu sobre a relevância duma escritora ter um diário. 
Defendeu ela que o hábito de escrever um diário acaba por ser uma boa maneira de praticar a arte da escrita. Argumenta que tal prática é bastante válida não apenas por razões qunatitativas. Ou seja, o argumento de Virgínia Woolf não é simplesmente: quanto mais se escreve, melhor se escreve. 
A autora valoriza o exercício de escrita de ocupar-se diariamente dum diário devido ao fato de que o processo de escrita em questão é de outra natureza. Ou seja, não escreve-se um diário com a mesma precisão e disciplina necessária para escrever um ensaio ou uma novela. O diário é um exercício de escrita mais livre, o que cria espaço para a descoberta de aspectos do idioma do escritor que talvez ele não tenha tido a chance de perceber antes. 
Quando lança os olhos para o seus diários Virgínia Woolf confessa que seu primeiro impulso é sentir uma espécie de culpa. Isso porque descobre ali um estilo áspero e sem muita disciplina, muitas vezes despreocupado com as regras gramáticais. Páginas e mais páginas onde ela reclama da vida e chora por uma alteração de mundo. 
Mas, apesar de todas as limitações, percebe que o idioma do diário é direto e instântaneo. E, por isso mesmo, capaz de carregar a escritora à uma proximidade do objeto sobre o qual ela escreve. Conta que  quando está a escrever seus diários experimenta uma outra relação com a pausa. A qual não é maior do que o tempo necessário para molhar a caneta no tinteiro. Confessa ainda, que escrevendo seus diários, percebe a escritora que carrega consigo mais solta e à deriva. Encontra-se momentaneamente com uma escritora sem amarras.
Então fica a dica da grande Virgínia Woolf para os escritores de plantão. Manter um diário pode ajudá-lo a descobrir pedaços do seu idioma ainda desconhecidos. Além de estreitar suas relações com a pausa e consequentemente, com o silêncio. 

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