a minha revolução começou quando...

por Caroline Stampone

A decisão de ocupar-me de um livro de contos que tem como mote 'a minha revolução começou quando' nasceu assim sem muita explicação. Claro se eu agarrar-me a lupa da auto-análise vou encontrar explicações. O que estou tentando dizer é que não foi assim uma dessas decisões pensadas. Não foi o lance de: 'ok, hora de escrever um livro novo. Sobre o que vou escrever?'.
Andava as voltas da edição de Quis dizer, como vocês já sabem, uma ficção que fala de verdades doídas. Uma ficção fundada em ditaduras reais, em injustiças que ainda hoje habitam o mundo. Atravessada por urgências sociais e políticas. 
Então, andava as voltas da edição de Quis dizer pela centésima vez, pois para mim o mais difícil é polir um texto. Então, estava limpando, enxugando e espremendo Quis dizer quando aconteceu em mim a necessidade de explorar um outro sentido de revolução.
Quis dizer fala de revolução. Já agora só para dividir uma informação. Quer dizer, é mais uma dúvida. Ando pensando se mantenho Quis dizer ou se acrescento ou mesmo troco o título. Sugestões? Num primeiro momento vomitei Quis dizer. Depois foi-me escapulindo 'O filho da terrorista ou o filho da mãe'. O que acham? Deixo como está? Acrescento? Mudo? 
Voltemos as revoluções de Quis dizer ou o filho da terrorista ou o filho da mãe. É verdade que há espaço para uns pitacos de revolução pessoal. Mas o chão é a priori político. Em Quis dizer a ditadura está por todos os lados. Em Quis dizer a ditadura cercea  a vida. Quem dera fosse só em Quis dizer... 
A ideia do livro de contos por vir é explorar revoluções mais egoego. Explico-me. Sabe aquele momento da sua vida em que deu um clique e alguma coisa essencial mudou. Algo que a primeira vista pode parecer insignificante, mas que foi fundamental para reformular a sua relação com você mesmo e com o mundo. Então, são esses clics que quero explorar nesse novo projeto. Já comecei a colher histórias de amigos. A ideia é explorá-las com um certo humor. Tentar encontrar o inesperado, tentar retratar a surpresa, tentar falar de algo importante que nos caí encima sem fazer desse mais um livro trágico. Claro que quando falamos de revoluções pessoais esbarramos na morte, no amor, na dor. Coisas substanciais e nem sempre fáceis de engolir.
O livro de contos 'a minha revolução começou quando' pretende abordar as durezas (e também algumas levezas) da vida com um certo humor. O qual ainda não sei muito bem se há de ser negro ou mais clarinho mesmo.
Caso queira dividir quando a sua revolução começou fique a vontade para escrever-me. Vai ser um prazer ficcionar a partir das suas verdades. 
Em Stories e Coffees encontrei vários desses clics, vários começos de revolução, sobre os quais falarei só no próximo post. Já que gastei tempo demais com as explicações de começo. Mais uma vez... 

um abraço e 'inté' 

Carol 

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