um começo do eu e da escrita
Começos são sempre coisas inventadas. Invento um começo meu. O começo do eu e da escrita. Um começo que esbarra na minha descoberta do poder. Foi quando tomei consciência de que escrevia, que aprendi o significado do poder e do estatus. Era uma vez uma menina de dez anos que cabia perfeitamente no estereótipo da aluna a ser zoada_ ou segundo o vocabulário atual_ tratava-se de uma vítima ideal de bullyng. Essa era eu. Óculos, aparelho nos dentes, mais alta do que todos os outros, andar desengonçado. Sempre que falava cuspia, porque o aparelho móvel insistia em não caber na boca. Enfim, material inesgotável para a crueldade das crianças. Tudo sugeria que era isso o que aconteceria. Episódios incontáveis de bullyng até a hora de crescer e fingir-se livre. No entanto, deu-se caso de acontecer o improvável. Tudo começou com a decisão de uma das professoras. Ela decidiu que sexta feira seria o dia das redações. Nós, os alunos, deveríamos escrever em casa e gastaríamos as ho