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Showing posts from March, 2016

Truth (2015)

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ATENÇÃO: esse post contém spoilers. Truth (2015) Direção e Roteiro de James Vanderbilt. Baseado no livro de Mary Mapes. Com Cate Blanchett, Robert Redford e Dennis Quaid. Um filme direto e reto, baseado em fatos reais. A história em questão é o que aconteceu com um bando de jornalistas e repórteres da CBS, quando ousaram dizer uma verdade sobre o então presidente dos EUA e candidato à reeleição, George W Bush, em 2004.  No programa de TV '60 minutes' eles deixaram o mundo saber que George W Bush não foi à guerra do Vietnã intencionalmente, afinal, usou da influência e poder de sua família para ser liberado do serviço militar. Por conta disso, o respeitado apresentador Dan Rather e a produtora Mary Mapes tiveram suas carreiras destruídas.  Recomendo o filme. O roteiro é muito bom e a direção tem seus momentos. Mas, o mais importante, Truth traz até nós um fantasma que é urgente enxergarmos. Por mais que seja fácil iludirmo-nos de que não, de que as coisas estã

nascido e criado para ser dono do mundo

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foto de Carol Stampone arte de rua, Bergen, 2015 o menino cresceu ouvindo que era o mais bonito, o mais perfeito, o mais esperto sempre recebeu os melhores pedaços de tudo sempre tinha vez, para falar, para sapatear, para jogar e até para bater aprendeu, ainda menino, que era bonito colecionar uma penca de namoradas mais do que isso, era motivo de recompensa afinal, depois de enumerar as namoradas, o pai sempre dava aquele riso grande e dizia orgulhoso 'esse é o meu menino, puxou ao pai' deve ter sido por isso, que depois de um pouco crescido, quando ouviu falar das amantes do pai, o menino achou normal, ou quase isso é verdade que ficou chateado, no começo não era justo com a mãe dele. era? ela cuidava tão bem deles todos, não merecia aquilo mas, daí o pai explicou que ele estava agindo que nem uma menininha boba. ele ainda não tinha entendido a complexidade de um homem macho? um homem macho sabia amar com respeito e distância a escolhida para o papel de

um homem de teatro avoou

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um homem de teatro não apaga não deixa de existir ou parte um homem de teatro avoa reparte-se, doa-se, mais um pouco até mesmo depois do fim para continuar fazendo espetáculo, dando show na memória da gente o meu primeiro diretor avoou foi fazer arte no além e ai de quem não aceitar ser por ele dirigido ele é um homem de teatro, muito bem arresorvido com beicinho a postos de diretor sabido ele convence deus e o diabo da boniteza e da urgência da arte que é verdade, incomoda, machuca mas, também abre os poros e os olhos da gente para a vida que vale a pena ser vivida o meu primeiro diretor me ensinou que uma boa dose de realismo, doa a quem doer, às vezes é necessária, pelo bem da arte ele dizia que eu tinha que aprender a ser a Quitéria e não fazer de conta que eu era ela ele insistia que eu tinha que bater no Chico de verdade e não fazer de conta que eu descia a mão nele eram tempos em que eu ainda era mais ingênua e tinha pouca noção do peso da min

o adormecer e a escrita

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há escritorxs que precisam adormecer, quase embernar, antes de escrever. as horas no sofá,            as centenas de filmes,                                 o excesso de ficção                                                e a falta de realidade TÊM uma função é o embernar que leva o escritor, que  arrasta a escritora a um outro lugar.  um lugar de observação da vida um lugar de criação um lugar em que  não há necessidade de hora certa ou rotina um lugar onde os preconceitos são adormecidos e é possível enxergar além das convenções sociais e das 'verdades' do século.

o imigrante ilegal não tem direito a ter direitos

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foto de Carol Stampone arte de rua em Bergen, 2015 'O imigrante ilegal' é o estrangeiro que não tem direito a ter direitos. Afinal, é aquele  que não tem as respostas nem os papéis certos para dar ao dono da casa. E, por conseguinte, não tem a proteção do Direito. Sem a qual, fica legalmente exposto às privações.  Os soberanos batem a porta na cara do imigrante ilegal e o fazem com direito, afinal, os soberanos são os donos da casa, e as suas ações e decisões, por mais injustas que sejam,  estão em acordo com a lei (que existe para servir e proteger a quem?- pergunta a mosquinha atrás da minha orelha). Enfim, porque tem a lei e o direito do seu lado e ao seu serviço, o soberano pode justificar, em cima dos palanques, que só bate  a porta na cara daqueles que estão fora da legalidade, e, portanto, não cumpriram a sua parte no acordo.  O soberano não   pergunta porque aquele que chega não cumpriu a sua parte do acordo. Talvez a vida dele tenha sido atravessada pela misér

o que é que o escritor precisa

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foto de Carol Stampone tirada em Copenhague em 2015 Há dias em que só consigo escrever pedaços. Começos. Vomito obsessões, fantasmas, pesos, fascinações, medos, urgências nas quais esbarrei e que não tive coragem de olhar nos olhos. Sou covarde. Uma escritora covarde. E é defeito? Há quem diga que é questão de sobrevivência. Sou uma leitora atrevida e até injusta. Vivo cobrando dos autores todos que tomem partido, que não sentem encima do muro, nem do mundo, que cumpram a obrigação de usar as palavras que metem juntas para denunciar o que precisa ser visto, discutido, mudado. Há dias em que sou habitada por uma precisão de saber terminar as coisas. São poucos os dias assim. Mas eles existem. Existem? a precisão de acabar as coisas... Há mesmo isso de coisa acabada? O que é que o escritor precisa? Disciplina? Regras? Tem é que escrever. Um escritor precisa escrever.

quando parei de contar solidões

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uma solidão duas solidões três solidões nove solidões vinte e sete solidões quando percebo já perdi a conta sem a conta acho que já não tenho serventia um estranho derruba em mim uma velha questão de começo por que é que eu estava ali? eu tinha esquecido muito ocupada a contar solidões enumerá-las etiquetá-las amontoá-las em montinhos de coisas parecidas tinha começado pelas cores depois tinha acrescentado o cheiro no meio do caminho a classificação começou a ficar complicada difícil distinguir entre as solidões amarelas e as cor de laranja difícil distinguir as que tinham cheiro de mar das que só estavam ensopadas de lágrimas acabei perdendo as contas, mais uma vez, de quantas solidões já tinha acumulado na vida dessa vez decidi fazer diferente não comecei tudo outra vez destranquei a pele, abri os olhos, soltei os cabelos disse até logo aos meus fantasmas todos meti-me dentro de sapatos confortáveis e comecei a subir a montanha no começo pareceu