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Showing posts from September, 2015

Ser mulher

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por Carol Stampone O homem existe, faz tempo.  A mulher resiste, ou segundo eles, enche o saco.  Vá lá, esse papo de feminismo já deu, né _ é o que eles dizem. Muitas delas também. É que o machismo não é exclusividade dos homens. Há muitas mulheres machistas por aí e por aqui também. O machismo ocupa pedaços meus. Aprendi-o desde pequena.  A gente aprende a ser mulher e machista.  Como bem colocou Simone de Beauvoir 'ninguém nasce mulher, torna-se mulher'.  Somos educadas para ser mulher. A questão é: qual mulher? O que é que significa ser mulher hoje?  A gente quer acreditar que muita coisa mudou desde os tempos das nossas avós. Mas, será que mudou?  As mulheres, pelo simples fato de serem mulheres,  recebem menos do que os homens para realizarem o mesmo trabalho que eles. O serviço doméstico e a educação das crianças, na maior parte do mundo, ainda é visto como obrigação de mulher. Se o homem for muito legal ele até dá uma ajudinha, mas é bônus, não o

Benjamin de Chico Buarque

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Chico é também escritor, não há dúvidas. Benjamin é um daqueles livros que sabem ficar em nós, apesar de no começo parecer que não há de ser o caso.  As primeiras páginas cansaram-me um pouco. Aquela parecia ser a história de um homem incapaz de aceitar a velhice. Só mais um homem velho, mergulhado numa crise de meia idade, um pouco tardia. Seria esse Benjamin?  Não. Benjamin reinventa as formas de narrar. Conforme mergulhamos no livro percebemos que os fatos, as culpas e as fantasias de Benjamin misturam-se de tal modo, que acabam por deixar marcas profundas no próprio processo de escrita. Simplesmente pelo estilo, Benjamin já valeria a leitura.  Além disso, o conteúdo da história é interessante e atual.  Benjamin fala com a velhice, traz até nós o poder da culpa e quando a gente menos espera, atira-nos encima a ditadura militar brasileira, com o mal cheiro e a falta de cor que lhe é devida. Quando Benjamin dialoga com a velhice, acaba também por meter-nos cara a cara

quando amei sozinha

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por Carol Stampone Eu sou aquela que veio antes. Aquela que estava esquentando o lugar. Aquela que de tão fácil de esquecer, parece que nunca nem existiu.  Ele diz que achou a outra metade da laranja, a tampa da panela velha, a companheira da vida inteira. E dessa vez não é como as coisas que ele costumava dizer depois da primeira garrafa de vinho, só para desdizer depois da segunda. Com vinho, sem vinho, com gym, sem gym, com ou sem conhaque, ela continua sendo a mulher que ele ama.  E eu? Eu sou aquela que começou a escutar todas as ladainhas do percurso difícil do ser, antes de ficar pronto para se entregar à uma relação. Eu sou aquela que esteve no meio do caminho, entre a que quebrou-lhe em mil e um pedaços e aquela que foi capaz de enchê-lo de vontade de ser inteiro outra vez. O poder do amor... Por causa dela, ele quis abandonar o sofá em que se encostava no passado. Por causa dela ele quis reaprender a conversar com gente, ao invés de continuar se especializa

Violette

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Violette é um filme sobre a vida da escritora francesa Violette Leduc, que, de certo modo foi uma marginalizada. Não apenas por ser mulher, mas também por ser uma bastarda e feia, ou ao menos era assim que ela se via. Todo o filme é atravessado pela presença de Simone de Beauvoir, que foi editora e amiga de Violette. Como bem colocou Simone de Beauvoir em uma entrevista, a história de Violette é "uma história de salvação pela literatura".  Violette é uma mulher atormentada pela solidão. Uma bastarda. Ela repete que ninguém a quer e que está sozinha. A mãe que a trouxe ao mundo mas nunca a quis. O pai que nunca a quis. Pelo meio do caminho os inúmeros amores aos quais ela se atira, desesperadamente, sem ser correspondida. O primeiro dos amores mostrado no filme é Maurice. Maurice Sachs. Foi ele quem a incitou a escrever. No filme ele literalmente atira-lhe um caderno a cara, depois de mais uma das crises de auto piedade dela, em que ela implora para que ele a ame

vida desbotada

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por Carol Stampone os pés sujos de terra do lado de fora de tudo que quase foi é época de campanha outra vez penduram na praça umas caras bem alimentadas e uns sorrisos bem engravatados no centro  o velho palanque nem é preciso decorar a ladainha o papel bem a vista afinal, ler é um privilégio coisa de doutor o doutor fala bonito  promete luz, vida eterna e água encanada  garante que deus é seu cabo eleitoral mais fiel e promete que depois de eleito irá fazer milagres sem precedentes a menina apequenada se encolhe assustada  por causa das ordens do doutor agora que a cidade dorme ele exige que ela se desnude  e faça jus ao cobre que ele pagou por ela  ela ainda tenta argumentar  que não é coisa que ele possa comprar pede, implora por piedade  por liberdade ela não quer virar moça falada do doutor embarrigada ele escu

Lições de família

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Desde pequeno ensinaram-me a ter. Mais do que isso. Ensinaram-me que a gente vale pelo o que tem. E o vizinho também... Quando eu tinha sete anos o vizinho do bloco ao lado comprou um carro novo, do tamanho de uma nave. Ainda lembro o quanto aquele carro foi motivo de sofrimento para a minha família inteira. Um carrão brilhante e novinho em folha. Importado e tudo. Um modelo mais novo e muito mais caro que o carro do pai. O carro do vizinho desvalorizou-nos na vizinhança uns três pontos, no mínimo. Da família mais rica do pedaço, passamos a ser a segunda mais rica. Mas, não por muito tempo. A mãe resolveu vender umas terras improdutivas e no ano seguinte comprou um carrão igualizinho ao do vizinho, mas vermelho, que era mais chique. Como o pai tinha mantido o carro dele, os dois carrões na garagem devolveram-nos o posto de a família com mais valor do pedaço.   Desde muito cedo ficou aprendido que era preciso ter boa aparência. E o que é isso? É estar dentro dos padrões de com

carta ao amor

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por Carol Stampone Por ti, fui grande tive asas fui mais longe do que as minhas pernas podiam respirei tão fundo que os pulmões explodiram quis tanto, que só sobrou um punhadinho para responder sim, sim, sim. Por ti espatifei-me fiz-me em bocados de quase tudo espalhados pelo chão estendidos para ti. Eu ali, submissa para que passasse Ma-gnanimo nem tive tempo para perceber que era eu que estava ali desfeita a esperar que me atropelasse. Não pediste licença usou botas pesadas estavam sujas do estrume do passeio de anteontem não fizeste cerimônia pisaste-me toda e eu não reclamei, um suspiro que se pudesse teria desenhado obrigado foi tudo. Como veio foste sem avisos, licenças ou porquês. Volta! Sinto saudades por todos os lados, só sabem falar de ti De como a tal felicidade é impossível na tua ausência. Troca os sapatos e volta. Assinado teu tapete da semana passada.

o fantasma da casa

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por Carol Stampone Toda casa tem um fantasma e todo fantasma tem algo a dizer.  Na casa onde eu nasci o fantasma era o vô. Um fantasma que sabia tudinho sobre culpa.  Um fantasma pesado. Carregado por todos nós. É que segundo a mãe, uma família tinha que fazer tudo, tudinho mesmo, reunida. Comer, sair, rir, chorar e até sentir culpa. A culpa grudou-se à mala da mãe de um jeito doído. Sem dó nem piedade, a culpa ocupou-se de amargar, encurvar e endurecer a mãe. Sem saber, e quem sabe, talvez até sem querer, a mãe dividiu comigo a tal culpa, pesada que só, antes mesmo de eu saber dizer uma palavrinha sequer. O mais complicado dessa coisa de já nascer carregando um fantasma é a dificuldade futura de saber onde é que as obsessões do fantasma terminam e as verdades da vida começam.  Os fantasmas cultivados, adorados e mimados, viram santos. Esquece-se todas as porradas que deram pela vida adentro. Esquece-se todos os que ele fez sangrar. Ignora-se tudo o que ele não sabia

uma ruína

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por Carol Stampone ruínas a beleza do que quase acabou e resistiu as marcas do tempo...                           há marcas que nos deixam mais fortes, mais inteiros até.                           outras carregamos por precisão, não há jeito de esquecê-las.                           há marcas que ficam porque a gente deixa, escolhe até. há quem diga que a gente é uma pequena marca do mundo uma marca que o tempo há de apagar enterrar e esquecer                           dia desses fiquei me perguntando                           para onde é que as coisas esquecidas vão?                           tive vontade de descobrir esse lugar                           e ir acabar lá algo se perde algo resta pode ser que o perdido e o restante se encontrem gozem e gerem mais um pedaço de mundo que irá ser metido para fora dum bucho alimentado para crescer educado para prosperar acumular repetir até que chegue a hora dele também acabar e virar mais um pedaço dessa ruína

quando a vó quis morrer em casa

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por Carol Stampone Tentei dizer a ela que a gente ainda podia construir uma casa em outro lugar. Ela balançou a cabeça, de um lado para o outro, sem pressa. Era assim que costumava fazer quando queria dizer, sem palavras, que a gente não entendia. Não sei se ela achava que eu era muito nova para entender ou se ela achava que a gente era muito diferente. Tão tão diferente que eu nunca ia ser capaz de entender as razões dela para ficar, apesar de tudo. Ainda lembro dela, em frente a casa, a mão estendida em sinal de adeus. Eu quis acreditar que era apenas até logo. Ela sabia que não.  Não voltamos a nos ver. Eu parti. Ela também quis que eu partisse. Disse que eu tinha uma vida inteira pela frente. Mas, para ela era diferente.  Eu tentei argumentar. "Vó, quase toda a gente já partiu". "A senhora não vê quantas casas foram destruídas pelas bombas? E se a próxima bomba cair encima da nossa casa?" Ela não dizia palavra. Só ia metendo as minhas roupas dentro da

um carneirinho

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por Carol Stampone um carneirinho fugiu não tinha mapa roubou uma maçã no quintal de uma quase vizinha ela gritou assustou-se e saiu a saltitar sem comer um carneirinho fugiu não deixou bilhete de despedida até quis mas, não o tinham ensinado a escrever um carneirinho fugiu ainda era pequeno a verdade é que os carneiros quando grandes já não fogem os grandes carneiros quase nunca fogem preferem permancer ali bem alimentados a trazer carneirinhos e mais carneirinhos para o mundo um carneirinho fugiu não saiu no jornal nem fizeram queixa à polícia a mãe carneira escondeu-se a rezar para o diabo implorando para que o carneirinho filho não voltasse nunca mais um carneirinho fugiu. 

bananas de beira de estrada

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por Caroline Stampone Estávamos num ônibus lotado, a caminho de Phnom Penh, capital do Camboja. Parei para comprar bananas. Uma penca muito bem servida por um dólar. Perguntei se podia tirar uma foto. Quer dizer, a minha linguagem corporal perguntou por mim. Ele fez com a cabeça que sim, agitado. Sorriu para a câmera. Eu fiquei pensando nos alcances de uma vida de beira de estrada, cercada por ovos frescos e pencas de banana. Fiquei pensando nas cadeiras de plástico vazias e nas vidas tão cheias de sofrimento. Fiquei pensando de onde é que vem a força de quem gasta os dias esperando por um amanhã menos sofrido do que o hoje e menos assustador do que o ontem. Assustei-me com os meus próprios pensamentos, acovardei... Acabei invencionando um outro começo para aqueles desconhecidos, agora também um pouco meus. Invencionei para eles um começo sem ditador nenhum. Um ontem sem milhares a perder a vida para a miséria ou para o Khmer Vermelho. Invencionei um hoje onde as pessoas têm

Era uma vez

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Quem julga pela capa, apressado, erroneamente pode concluir que Era uma vez é uma espécie de versão moderna e abrasileirada de Romeu e Julieta. É não. Era uma vez vai muito além da briga entre duas famílias ricas e do amor egoísta de dois adolescentes privilegiados e mimados.  Era uma vez (2008) Dirigido por Breno Silveira Escrito por Patrícia Andrade Era uma vez é um retrato triste de uma realidade mais triste ainda. A realidade duma desigualdade social que já virou monstro. Uma desigualdade social que já tem tantos braços e pernas que a gente já nem dá mais conta de contar.  Esse monstro obriga o pobre a gastar uma vida inteirinha isolado, privado, invisível. E ai do pobre se ousa tentar bulir as regras do monstro e ocupar espaços que não são seus.  O protagonista de Era uma vez é um dos pobres invisíveis. O mais novo de três irmãos, todos eles vítimas da temida desigualdade, que ensina cedo que pobre não foi metido nesse mundo pra sonhar.  Sonho é privilégio de rico

Lars and the real girl: um filme que vale a pena assistir

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Uma comédia e também um filme que nos faz pensar. O riso e o pensamento juntos. Pode parecer incomum. E o é. Mas simplesmente porque criamos o mau hábito de rir quando não entendemos nada. Com essa comédia rimos. Rimos porque é inesperado, algumas vezes absurdo. Mas é justamente o não esperado, o que vai de encontro ao estabelecido socialmente, que nos faz pensar. Um homem solitário, um bom homem solitário, e é importante frisar o bom. Enfim, o bom homem solitário compra uma boneca inflável pela internet. Ao contrário do que espera-se dos consumidores de tal material ele não a esconde. Pelo contrário. Irá introduzi-la como sua namorada para toda a cidade. Daí temos: a boneca inflável, a mulher de plástico, o objeto sexual, metida na vida de uma cidade inteira. Ele volta para casa para vê-la. Espera que ela esteja esperando por ele. Que esteja saudosa dele. É nas saudades dela que pensa em encontrar sentido para a sua vida.  Não conto mais para não destruir o filme. Garant

quando escrevo

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por Carol Stampone Quando escrevo nem sempre é o mesmo tem dias em que  esvazio-me, quase acabo. Tem vezes que escrever me fortalece, junta os pedaços. É quase como se eu  soubesse quem sou. Às vezes, escrever me deixa de bem comigo mesmo. Noutras, me lembra que há tantas urgências a serem denunciadas. Escrever dá outro significado às horas e à realidade. Tem dias em que  escrever me leva para casa. Há outros em que é porque escrevo que não posso caber em lugar nenhum. Quando escrevo fico mais perto de quem quero ser as palavras vomitadas machucam o meu esofago, rasgam a garganta, me fazem doer mas no meio do caminho eu me sinto mais eu... um abraço e inté a próxima

CaNSei

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Malditas instituições tão cheias de si supostas portadoras de toda a verdade castradoras e hipócritas erguidas num mundo de machos a serviço deles opressoras por tradição e falta de imaginação Esse espaço foi parido para meter  dentro de cada uma de nós  a interrogação escandalosa e palhaça que sabe rasgar peles apodrecidas e fazer máscaras em pedacinhos  IngÊnua? Sou não. Sei que são especialistas na arte de iludir, manipular alienar FAZER FUNCIONAR não é assim que se apresentam? Cansei de funcionar Cansei de seguir a cartilha e ter a obrigação de procriar Cansei de ser sexy,  bem penteada e bem comportada Cansei de fazer de conta que não tem problema nenhum rir das piadas machistas e  repetir que os nossos meninos são melhores que os outros Cansei de fazer de conta cansei dos sorrisos frouxos que a gente aprende a meter na cara desde menina para não assustar o opressor cansei de ter hora marcada para tudo e espaço pa

pra mode a gente ser, perto duma árvore

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por Caroline Stampone "em caso de excesso de lucidez, loucure-se" pra mode a gente se encontrar pra mode a gente se alegrar pra mode a gente se engolir pra mode a gente se grudar pra mode a gente se esquecer pra mode a gente se aguentar pra mode a gente de perder e florescer amanhã perto duma árvore cuuumprida que só...

The Sound of Language de Amulya Malladi

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A história de uma amizade incomum, de um lado, uma jovem refugiada afegã, do outro, um aposentado dinamarquês que está de luto. No meio do caminho adolescentes neonazistas, estereótipos que distanciam, culturas diferentes, memórias do Talibã, preconceito cotidiano e abelhas. Sim, isso mesmo, você não leu errado não, abelhas.  As abelhas marcam essa história desde o início. A escolha da autora de comparar o som da língua dinamarquesa com o jeitinho das abelhas 'conversarem' é uma das coisas que mais gosto nessa história, que fala de urgências que precisam ser vistas. Mulya Malladi, a autora, desembucha assim: "The sound of bees was almost overwhelming, like being in the middle of a busy supermarket where everyone was speaking Danish in loud whispers" (66).  (O som das abelhas era quase esmagador, como estar no meio de um supermercado super cheio, em que toda a gente estivesse falando dinamarquês em altos sussurros).  Outra coisa que adoro é a dedicatória d

Girls of Riyadh de Rajaa Al Sanea

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Girls of Riyadh de Rajaa Alsanea Mais uma ficção que fala de verdades. Dessa vez uma verdade que me é ao mesmo tempo distante e próxima. De forma grosseira, podíamos dizer que essa é uma história sobre o que significa ser mulher na Arábia Saudita. Mas, se olharmos mais de perto, vemos que é mais uma história sobre o que significa ser mulher em um mundo ainda dominado por homens. Girls of Riyadh começa com um casamento. Começo esse que pode arrastar-nos a contos de fadas ou ingênuas versões da vida. O que é o caso, mas também deixa de ser. E é justamente o despedaçar de visões romanceadas sobre a vida o que mais me interessou nessa história. O casamento do começo da história é o casamento de Gamrah, uma das quatro protagonistas de Girls of Riyadh. As outras três são Sadeem, Lamees e Michele. Quatro jovens de famílias ricas, que estão 'na idade de casar'. Sim, um dos muitos preconceitos que são trazidos até nós por Girls of Riyadh é de que mulher tem hora para casar,

The OutCast de Sadie Jones

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Gostei muito. Uma dessas histórias em que a personagem é exposta até o osso. Nada fica escondido. Mas a autora sabe respeitar o tempo. Não vai atirando encima do leitor tudo de uma vez. The Outcast é a história de um menino. Lewis é seu nome. Primeiro ele foi simplesmente um menino bonito, rodeado de amigos e acariciado pelo amor da mãe. Depois, virou o esquisito da cidade, o solitário. Por último o bandido, temido e odiado. No meio disso tudo: a mãe morta, uma igreja em chamas, a exposição de um suposto bom homem, que na verdade não passa de um senhor violento. Por último o amor. Um amor capaz de salvar. Amor capaz de lembrar que a verdade é outra. Muito antes do pai começar a repetir: "o que há de errado com você?". Muito antes de todos se acostumarem a presença dele em forma de fantasma. Vale a pena conferir. um abraço e inté a próxima

Leitura para driblar o inverno

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A question of belief  by Donna Leon Ler de tudo. Tenho tentado ler de tudo. Confesso que as vezes nem eu mesmo sei porque. Mas esse não é um post sobre o que vale ou não a pena ler. É só um breve palpite sobre o romance policial  A question of belief  (Uma questão de crença).  Terminei de ler esse livro já faz uns dias, talvez semanas. Ele não deixou-me nada grudado a pele. Demorei para achar a engrenagem da leitura. Sabe aquela vontade de continuar lendo? Aquela vontade que te deixa estacionado num paradoxo. Coisa do tipo: quero continuar lendo e lendo para chegar ao final, e também quero que o final não chegue nunca?  Então, lendo esse livro não senti nada disso.  O livro tem seus momentos e é capaz de deixar algumas impressões. Por exemplo, é possível sentir o quão quente a Itália pode ser durante o verão. Um calor capaz de enlouquecer.  No entanto, o crime a ser desvendado não é lá assim tão complicado. Além disso, a forma como o homossexualismo é abordado pode dar

Festival Man de Geoff Berner

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por Caroline Stampone  Festival Man  é uma história sobre bastidores. Uma história sobre punk rock. A história de uma vida (ou do fim de uma vida). A vida de um cara que nasceu no Canadá e foi a alguns festivais. Um cara que é uma espécie de babá de músicos. Uma péssima babá, diga-se de passagem. Produtor, agente e descobridor de músicos.  Essa é a história de uma cara que gosta de beber, que definitivamente gosta (e provavelmente precisa) beber. Um cara provocador que não tem medo de dizer as palavras todas, que as vezes tem paciência para jogar o jogo em que se meteu, noutras tem somente muito álcool nas veias. Em  Festival Man  encontramos uma espécie de anatomia do show business. Mas mais importante do que isso, encontramos uma ética bem particular e um olhar aguçado sobre a vida e a humanidade. O olhar de um bêbado cansado, que um dia foi apaixonado por música, e que está em seu último festival, incerto, se só espera a vida passar, ou se se tenta, uma última vez. Num d

Primeiro eles mataram o meu pai de Loung Ung

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'First they killed my father' (Primeiro eles mataram meu pai) é um livro urgente e duro. Mas isso eu já disse ontem. Hoje quero trazer a tona algumas das palavras da própria autora, Loung Ung. É que elas falam por si só. Resumem a força e a importância desse livro.  Não foi fácil escolher quais trechos trazer a tona. Há tantos momentos chocantes. Há tanta coisa que tira a gente do lugar. Como sugiro fortemente que leiam o livro, optei por começar por um trecho que informa mais do que mostra o idioma da autora. Um trecho em que a autora de certo  modo sintetiza o que foi o Khmer Vermelho.  Começo com um trecho em que ela fala da corrupção e dos abusos do Khmer Rouge. Onde a igualdade entre todos não era mais do que mais uma das mentiras contadas pelo ditador Pol Pot e seus aliados.  "Thought the Angkar says we are all equal in Democratic Kampuchea, we are not. We live and are treated like slaves. In our garden, the Angkar provide us with seeds and we may plant