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Showing posts from May, 2016

porque ler um poema por dia

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ler um poema por dia desacelera cria espaço acarinha o corpo e dá-lhe voz para começar a contar o que é que que ele quer e precisa a poesia carrega fantasmas que sabem verdades que a gente acha que já não servem que estão fora de moda mas, que na verdade sao as únicas que servem verdades escudo que a gente tem que meter na frente da gente na hora de encarar os nossos próprios monstros a poesia as vezes lembra-nos que a ética e a política não deviam ser coisas separadas e que o amor e a dor tem horas que só sabem existir grudados a poesia traz até nós o ar da montanha e deixa que ele abra a nossa pele e vernize as palavras e anime o pensamento a poesia não tem preguiça de por o pensamento a dançar não tem vergonha de convidar o coração para dançar junto não mete o corpo no lugar de empregado pelo contrário, convida-o também, para a dança a poesia é como um baile em que todos os nossos pedaços são convidados a existir n

os verbos do fim

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arte de rua, Bergen, 2016. foto de Carol Stampone. 'No começo era o verbo'. E no fim? O verbo outra vez? Mas, com qual verbo o fim começa? Foi? Teve? Queria? Devia? Amou?  No fim sobramos como uma lembrança que habita um outro.  Mas e se durante a vida uma pessoa só tenha sabido contar solidões? Foi criança na hora de ser gente grande, para compensar as horas todas, em que teve que fingir que sabia o que criança nenhuma tem a obrigação de saber. Quis um outro mundo. Gastou pedaços seus engaiolada numa bolha. Fez-se e refez-se lutando batalhas perdidas e abraçando Quixotes. Devia demais a si mesma. Inúmeras promessas, compridas demais para haverem de ser cumpridas. Amou, uma vez, com loucura e sem pisar no freio. Entregou-se e quebrou-se. Levaram-na para o hospital. Mas, ela que sempre considerou hospitais lugares deprimentes, arrastou-se para a casa do cachorro. Deu o último suspiro ali, sem nome. Escreveu por desespero. Uma solidão, duas solidões, trinta