a cor do desespero dela
Vermelho. O chão estava coberto de um vermelho vivo e quente. O corpo dela esquecido na cabeceira da mesa, repleto dos pedaços de vidro. Naquela noite ela tinha decidido fazer diferente. Escolheu desobeder. Não comeu o que meteram-lhe no prato. Apesar de saber que ela tinha a obrigação de mastigar todos os pedaços e engolir tudinho o que lhe enfiavam no prato e na vida. Todo o quarto, toda a casa cheirava a podre. O cheiro não vinha do peixe, que era fresco e tinha sido preparado com as últimas cebolas e com dois dentes do alho roubados do pequeno oficial. As batatas, apesar de velhas, tinham sido cozidas com precisão. A cozinheira tinha feito o milagre de encontrar rosmarinho. O vinho era bom e tinha sido larapiado do padre, que por sua vez o tinha surripiado dos bolsos dos pobres quebrados que fingia servir. As toalhas um dia tinham sido brancas. Fazia tempo que tinham passado a existir de outra cor. A cor da opressão. O cheiro da opressão. Apesar de tudo, ela era u