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Showing posts from November, 2015

estrangeira

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por Carol Stampone Estrangeira tenho existido estrangeira sobrado em terra estrangeira faz algum tempo há coisas que escapam de mim em língua estrangeira outras que só sabem existir metidas na minha primeira língua uma língua que não é minha eu sei, mas também não sei I'm broken quase sempre é em língua estrangeira que essa verdade me alcança acho que porque estar quebrada tem muito a ver com a minha condição de estrangeira Estrangeira com letra maiúscula se fosse minúscula era mais fácil? estrangeira por opção metida na periferia do mundo por culpa do Zeca Pagodinho que inventou de inventar 'deixa a vida me levar, vida leva eu'... eu as vezes levo demasiado a sério verdades momentâneas mas só as que sabem me alcançar ou então as que caem-me encima, sem pedir licença a língua que trava há tanta coisa que não sei dizer em língua estrangeira a repetição dos lugares comuns exótica a terra de onde eu vim é exótica o meu jeito de falar é exóti

quando chegar a hora

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por Carol Stampone quando chegar a hora de dizer que já não há tempo e afirmar que as possibilidades perderam-se com o vento que tal invencionar em voz alta que foi a hora que chegou atrasada o tempo que decidiu voltar para casa, porque percebeu chuva a caminho e tinha esquecido o guarda-chuva? quando chegar a hora de abrir a boca para derrubar culpa ou gastar os dedos para apontar culpados que tal invencionar um lugar sagrado? uma casa onde cabe tudo e todos que sabem dançar e que não esquecem que a culpa é coisa vazia e afiada que devia ocupar ninguém e lugar nenhum. quando chegar a hora de fazer alguém menor só pelo prazer daquele tiquinho de micro poder que nem sabe grudar na mala nem nada que tal abrir a pele, a boca e o ânus e deixar aquela feiúra escapar de ti escorregar no mundo e reviver outra coisa? quando chegar a hora de quebrar, despedaçar desaprender a andar sozinho que tal gastar um tubo inteirinho de cola e reiventar a você mesmo com

dia errado para um Zé ninguém

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por Carol Stampone _ Tem dia certo para acabar?  Ele perguntou aquilo sem aviso prévio, sem licença, sem delongas. Abriu a boca e perguntou. Foi tudo. Estava mastigando um pedaço de frango com cenoura e arroz. Eu não sei o que eu devia ter respondido.  Não queria ter reagido como eu reagi. Mas eu também era humana.  Tem Dia  Certo Para Acabar? Quem acaba num dia pode voltar a existir num outro dia qualquer? Amanhã quem sabe? Amanhã ia fazer nove anos que a gente vivia junto. A gente se juntou logo depois da gravidez. A vida nunca foi fácil, mas antes, pelo menos a gente tinha um ao outro.  Por que é que ele não abaixou a cabeça e continuou existindo? _ Mainha, eu fiz uma pergunta. A senhora sabe se tem hora certa para acabar?  _ Cala a boca! _ gritei na cara dele e corri para o banheiro. Para bater a cabeça contra a parede, em desespero. O desespero de quem quer esquecer. O desespero de quem tinha assistido a sua última esperança ser arrancada. A esperança