os verbos do fim
arte de rua, Bergen, 2016. foto de Carol Stampone. |
'No
começo era o verbo'. E no fim? O verbo outra vez? Mas, com qual
verbo o fim começa? Foi? Teve? Queria? Devia? Amou?
No fim sobramos
como uma lembrança que habita um outro.
Mas e se durante a vida uma
pessoa só tenha sabido contar solidões?
Foi
criança na hora de ser gente grande, para compensar as horas todas,
em que teve que fingir que sabia o que criança nenhuma tem a
obrigação de saber.
Quis
um outro mundo. Gastou pedaços seus engaiolada numa bolha. Fez-se e
refez-se lutando batalhas perdidas e abraçando Quixotes.
Devia
demais a si mesma. Inúmeras promessas, compridas demais para haverem
de ser cumpridas.
Amou,
uma vez, com loucura e sem pisar no freio. Entregou-se e quebrou-se.
Levaram-na para o hospital. Mas, ela que sempre considerou hospitais
lugares deprimentes, arrastou-se para a casa do cachorro. Deu o
último suspiro ali, sem nome.
Escreveu
por desespero. Uma solidão, duas solidões, trinta e duas solidões,
todas documentadas. A tentativa de sobrar dentro de um outro, mesmo
que desconhecido. Mal sabia ela que a própria escrita anda
moribunda.
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