o começo e o erro


“It began as a mistake” (Isso começou como um erro). É assim que começa Post Office de Charles Bukowski.
O olhar dessa figura diz o mesmo. Em muitos começos há erros e há começos que são erros.
A figura conversa com as verdades cruas e embriagadas de Bukowiski.
E eu ocupo-me da inutilidade de falar delas. Falar do começo. Dos erros de cada começo. Dos começos que só são possíveis para quem erra. Começos que marcam vidas, não porque carregam profundas verdades ou pesadas necessidades. Começos atravessados por realidade. Pelo que foi e pronto. E não esqueçamos o quanto a realidade pode ser absurda.
Começos absurdos. Começos rotineiros. Um desconhecido deixa-lhe um espermatozóide de presente. Nove meses depois chega a criança rosada e birrenta. No começo chora. No fim sente medo.
Dizem que é fácil ser forte no começo. Os começos são cheios de adrenalina. Espaço para os erros.
Começos sem roteiro politicamente correto. Começos bem encapados com o papel que esperam de nós, do nosso lugar social. Começos desalinhados, desafinados, solitários e bem regados.
O começo de quem escreve: exacerbação ao ego? ingenuidade? necessidade? diálogo com urgências? cultivo do ócio?
O começo de quem acaba: desespero? solidão? decepção? cansaço? o acúmulo de demasiados erros? ou simplesmente a impossibilidade de conviver mais com tantas marcas do que devia ter sido?
Começos atravessados por mentiras. Começos onde fomos quem já não sabemos ser. Começos que criam expectativas, esboçam distâncias e redefinem o significado do azul.
... e se começamos demasiadas vezes alguém há de dizer que não sabemos ser gente grande. 


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