“What it means when a man falls from de sky” by Lesley Nneka Arimah

Amazon.com: What It Means When a Man Falls from the Sky: Stories ...

Ps: Esse post tem spoilers. 

Descobri esse poderoso livro de contos ontem. Li as primeiras duas histórias. “The Future Looks good” and “War stories”. São histórias curtas, cheias de poesia, ritmo, música mesmo. The Boston Globe descreveu o livro como inventivo e “wildly playful”. Eu concordo. Arimah sabe brincar com as palavras. Ela sabe jogar sobre nós pedaços de histórias como quem põe na nossa frente pedaços de um quebra cabeça complexo, bonito a sua maneira, mas também escuro. Tão escuro. Eu também tenho uma tendência forte de escrever sobre injustiças com uma pena pesada. Tem como ser de outro jeito? Não sei. Acho que o que sei é que tem vezes em que a denúncia de uma injustiça por meio da literatura para alcançar significado inteiro tem mesmo que acabar nesse chão de escuridão e desamparo. A personagem principal da primeira história, que enquanto tem as chaves na fechadura não nota todos aqueles que estão atrás dela, termina de um jeito trágico. Nós, os leitores, acabamos por saber muito pouco sobre ela. Sabemos que ela foi uma filha, uma neta, uma irmã. Ela deixa de existir de um jeito violento. “The Future Looks Good” é um conto sobre feminicidio. Mais uma história de violência doméstica em que um homem que não sabe ouvir se vê no direito de assassinar uma mulher. A mulher que por conta dessa violência já não tem mais como ser desaparece do mundo antes que nós, leitores, tenhamos a chance de realmente saber quem ela é. Imagino que a autora quis justamente pintar essa imagem forte. Mais uma mulher que é eliminada pela violência de mais um homem que se vê senhor do mundo, antes mesmo de ter a chance de mostrar ao mundo quem ela é.

“War Stories” é outra historia pesada e escura, mas contada com uma certa leveza. Tudo começa com a descrição de um mau comportamento da menina na escola. Ela levantou a blusa de uma outra menina, pra provar as outras meninas que a tal não tinha os sutiãs sofisticados que dizia ter. Esse incidente faz com que o pai volte a lhe contar o velho conto do período da guerra, que ele já tinha lhe contado tantas vezes, sempre pra lhe dar alguma lição. No incidente ao qual o pai sempre retorna ele perdeu a arma. Procurou pela mesma por três dias, sem sucesso. Mais tarde descobriu que o seu superior tinha pego a arma enquanto ele dormia. Como punição ele foi enterrado vivo. Nunca mais voltou a esquecer a arma. A menina diz que o pai nunca lembra ou fala de outra coisa senão o período da guerra. Como se não houvesse nada antes ou depois da guerra. Esse conto recebi ao fim e ao cabo como uma declaração de que se uma pessoa é atravessada por uma guerra depois de um certo ponto, ela acaba ficando presa naquela guerra pra sempre. Tudo o que ela pode ser são as histórias daquela guerra. O pai da menina lembra de todos que morreram na guerra. Explica que ele não morreu porque correu. Bebe e desaparece. No meio do caminho falam de Emanuel. Alguém que ela conheceu. No meio do caminho descobrimos que ele também esteve naquela guerra. Sobreviveu. Mas mais tarde tirou a própria vida. Durante a guerra ele atirava em cobras. Uma vez um bando de moradores da vila vieram atrás dele. Queriam prestar contas com aquele que estava assassinando seus deuses. O comandante então disse a Emanuel que se ele matasse mais uma cobra ele o entregaria aos homens da vila e deixaria que eles fizessem com ele o que bem entendessem. No meio do caminho, uma cobra imensa, que já tinha sido vítima de um tiro, antes da chegada dos homens da vila, mata um menino, antes de deixar de existir. O pai conta isso tudo à menina sem perceber que está dividindo demasiadas verdades. Mais tarde, na escola, ela se vê em outra situação em que esperam que ela outra vez revele a verdade. Mas ela já está cansada dessa função e não quer saber da verdade. Os pedaços não são apresentados nessa ordem e nem sei se essa foi a ligação que a autora fez. Recebi-os um pouco assim. Como se o pai preso numa vida feita só de historias de guerra estivesse de algum modo tentando desenhar para a filha que uma vida pra ser inteira precisa de mais do que verdades, precisa também de amigos, de comunidade, precisa ser vivida de um lugar que é do mundo e para o mundo.

Recomendo a leitura.

Um abraço e inté a próxima.

Comments

Popular posts from this blog

Os amantes do café Flore: Beauvoir e Sartre

Conversando com “Vozes Mulheres” de Conceição Evaristo

Strangers de Taichi Yamada