Nos bastidores de Quis dizer. O começo.
A
novela Quis dizer escapuliu-me em dezembro de 2010.
Aproximava-se
o aniversário de um bom amigo. Amigo esse que é poeta, apesar de
ter tentado fugir dessa verdade.
Quis
dizer foi antes de tudo uma provocação para esse amigo. Um
grito. Um pedido para que ele escrevesse, pois é para isso que
existe, na minha modesta opinião.
por Caroline Stampone |
A
obsessão que moveu Quis dizer foi a ditadura. Velha
conhecida minha. Dessas conhecidas de ouvir dizer, de conviver com os
restos.
Em
2010 Quis dizer escapuliu-me em menos de uma semana.
Vomitei imagens no caderno de escrita de capa azul (sobre o qual falarei em outro post). Não lembro se
usei caneta azul ou preta. Depois digitei tudo no computador. Fiz uma
capa com radiografias e dei de presente para o meu amigo. Na
dedicatória confessei que aquela era uma merdinha ainda fresca.
É
que naquele momento Quis dizer não era bem uma história. Não passava de um
regurgitar só meu. Era quase incapaz de encontrar o leitor. Vez ou outra esgueirava-o, mas nunca o confrontava, com as palavras todas.
As imagens
que deixei escapulir no nascimento de Quis dizer provavelmente habitavam o mais escuro de mim.
Era uma história que apenas eu e o meu umbigo sujo eramos capazes de
entender.
Mas,
uma escritora não escreve apenas para si mesmo. Encontrar o leitor é fundamental. Escrever para si mesmo
encaixa-se melhor em auto-análise. Quis dizer começou não exatamente como auto-análise, estava mais para uma busca. A busca pela voz da escritora que encasquetei que me habita.
Pois bem, Quis dizer nasceu como a procura do idioma de uma escritora embrulhada em papel de presente. Quis dizer saiu do forno como um presente
inacabado ou se preferirem aberto. Uma provocação, um convite ao
por vir de um amigo.
Foi uma boa hora para tirar algo quentinho do forno. Afinal, era dezembro, numa Coimbra gelada, numa Baco 'rexistente'.
Quase três anos depois decidi voltar-me sobre Quis dizer outra vez. Por que? Pareceu fazer sentido. A ditadura ainda é uma das minhas gigantescas obsessões, o processo para encontrar o meu idioma ainda é uma das verdades onde finco os pés. Além disso, alguns poucos pacientes amigos fizeram a bondade de ler uns capítulos para testar se Quis dizer aprendeu a falar mais do que a velha língua do umbigo sujo. E sabe que aos pouquinhos Quis dizer tem aprendido a falar com os outros.
Por essas e outras, hoje Quis dizer está sendo exposto ao suor cotidiano dessa que aqui vos escreve, a qual anda crente de que loguinho essa ficção que fala de verdades urgentes saberá falar de vez a língua dos outros. E poderá ser devorada pelos portadores de estômagos duros.
um abraço e 'inté' a próxima.
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