Cartas para minha avó de Djamila Ribeiro
Quem tem o direito de tomar espaço pra dizer quem é?
Ouço “this is a man’s world” (esse é um mundo de homens) no fundo enquanto escrevo sobre esse livro, que terminei de ler faz uns dias. Mais de uns dias agora. Dois meses ou mais. Na correria da vida há pouco tempo pra digerir o que consumimos.
Retornando à Cartas para minha avó de Djamila.
Estaria mentindo se dissesse que li tal narrativa sem incômodo. Vi-me incomodada diversas vezes. Quando tento entender de onde vem essa sensação de desconforto esbarro na história vendida a mim e a tantes outres sobre quais histórias valem a pena ser contadas e quem tem o direito de aparecer. Mais do que isso, quem tem o direito de falar sobre o que.
Djamila Ribeiro, para alguns, a filósofa pop que fala de feminismo e racismo, tem constantemente insistido no seu direito de ser humano. Na sua coluna em um jornal de grande circulação ela escreve sobre diversos temas, não limita-se a falar sobre os tópicos pelos quais ficou conhecida. Além do mais, ela foi capa de revista algumas vezes e constantemente posta fotos suas em suas redes sociais, como uma mulher bonita que tem o direito de fazer parte do espelho social de sua sociedade e do mundo. Enfim, ela é uma mulher negra, intelectual, ativista, que insiste na importância de poder ser tudo o que é, sem ficar presa no quadrado “intelectual negra”.
Ao mesmo tempo, o conceito “lugar de fala” está no centro de seu trabalho. Ela insiste que a postura ética que precisamos pra viver nesse mundo juntes passa pelo reconhecimento de que todes e cada um de nós existe em um especifico social locus, o qual interfere enormemente no que somos capaz de ouvir e expressar.
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