The Kahalary Typing School for Men
The Kahalary Typing School for Men é outro dos livros leves, tocantes e intrigantes de Alexander McCall Smith. Faz parte da série iniciada com The No.1 Ladie's Detective Agency.
Dessa vez a protagonista é Mma Makutsi, a assistente de Mma Ramotswe na agência de detetives, que, temporariamente, durante os dias mais escuros de Mr J.L.B. Matekoni, também foi uma espécie de gerente da oficina de carros.
Confesso que não sou a maior fã da maneira simplista com que é descrita a ascensão social de Mma Makutsi. Deixa um rastro do velho e ainda tão usado preconceito de que só não melhora de vida quem não quer. 'A culpa de ser pobre é dos pobres'. Mas, por outro lado, gosto muito do idioma do autor. E reconheço na trajetória de Mma Makutsi pedaços de histórias de vida de tanta gente que luta pela vida com otimismo e criatividade, dia após dia.
Mma Makutsi vem de uma família muito pobre. É o típico exemplar da mulher que tem que fazer-se sozinha. O pai não deixou-lhe gado de herança para que começasse um negócio. Pelo contrário, é ela quem ajuda a família e cuida dum irmão doente. Além disso, não possui nem os atributos nem a vontade para caçar marido rico. Sente que de algum modo venceu na vida. Afinal, formou-se na escola de secretárias com a média de 9.7, a maior até então. Fato do qual orgulha-se muito e que menciona sempre que pode.
Apesar disso, sabe que muitas secretárias que formaram-se com médias muito inferiores a sua ganham muito mais do que ela própria, porque têm uma aparência que vende. Mas Mma Makutsi não é mulher de ficar reclamando. É uma mulher prática e em geral bastante realista, que tem os pés no chão e a cabeça pronta para abrigar a felicidade.
É que acredita que a felicidade está na cabeça de cada qual. “Hapiness is found in the head (…) If the head is full of hapinnes, then the person is definitely happy”. (A felicidade é encontrada na cabeça (…) Se a cabeça está cheia de felicidade, daí a pessoa é definitivamente feliz.)
Mma Makutsi não considera-se infeliz. A vida é difícil, mas ela gosta de trabalhar na agência de detetives, gosta de ter por perto pessoas de bem como Mma Ramotswe e Mr. J.L.B Matekoni. E até consegue divertir-se um pouco as custas dos aprendizes, os quais não sabem fazer outra coisa além de correr atrás de garotas.
Se por um lado os aprendizes acreditam que o que um homem precisa para estar vivo é mulher. Chegam mesmo a afirmar: “If you didn't think about girls, then it is a sign that you are about to die. That is a well-know fact” (Se você não pensa em garotas, daí é um sinal de que você está a beira da morte. Esse é um fato conhecido). Mma Makutsi acredita que o que mantém uma pessoa com a cabeça aberta para abrigar a felicidade é ter a vida ocupada por projetos.
Depois de desempenhar com sucesso o acumular de funções na oficina e na agência de detetives Mma Makutsi percebe que anda atravessada pela precisão de um novo projeto. Algo que além de garantir-lhe espaço na cabeça para a felicidade permita-lhe também melhorar a sua condição de vida. Depois de pensar em aulas de direção, acaba por optar por uma escola que ensine homens a datilografar.
Percebe que há muitos homens que não sabem datilografar. Percebe ainda que eles não procuram uma escola porque têm vergonha de assumir que não sabem datilografar. Como todas as escolas de secretárias são voltadas para mulheres Mma Makutsi tem a ideia de criar uma escola só para homens. Um lugar discreto, onde eles possam aprender a fazer algo que não sabem, sem ter que assumir isso na frente das mulheres.
O problema é que ela não tem capital para o investimento inicial. O que fazer? Como diria Mma Ramotswe é preciso descascar o problema para em seguida achar a solução. E nada melhorar para descascar um problema do que um por que. Por que a ausência de capital era problema? Ora, porque é preciso um lugar e máquinas de escrever para começar a escola de datilografia para homens. Problema descascado Mma Makutsi começa a ir em busca da solução. Com a ajuda de amigos e conhecidos consegue lugar e máquinas sem precisar gastar um vintém.
A escola de datilografia acaba por ser um negócio de sucesso. Que permite a Mma Makutsi não apenas sentir-se realizada, mas também garante-lhe uma ascensão social. Ela deixa de precisar contar moedas. Chega mesmo a dar uma gorjeta significativa para o rapaz que dirigiu o caminhão de sua mudança. O que acaba por surpreendê-la. Afinal, aquela foi a primeira vez que teve condições de fazê-lo. Percebe que o rapaz olha para ela e para a sua nova casa_ onde terá dois comodos ao invés de um_ como alguém pertencente a uma outra classe social. Mma Makutsi num primeiro momento não sabe se fica feliz ou embaraçada por encontrar-se nessa nova posição.
Por fim decide-se pela felicidade, afinal, pode mandar mais dinheiro para casa. Seus parentes ficam muito felizes com o dinheiro enviado e escrevem-lhe uma carta dizendo que estão usando o dinheiro para comer melhor.
Mma Makutsi também permite-se comprar um par de sapatos novos e um vestido novo. Ela está feliz não apenas porque tem condiçoes de alugar uma casa nova, numa área melhor localizada, na qual pela primeira vez vai ter um chuveiro. Não irá precisar mais lavar o cabelo correndo na pia comum e correr o risco de levar bronca do proprietário por estar desperdiçando água.
O que também a alegra é um romance recém surgido, que ela nunca irá saber ter sido parte de uma das investigações de Mma Ramotswe.
No meio do caminho Mma Makutsi tem que viver um pedaço doído. É que o irmão que antes vivia com ela, não poderá aproveitar o chuveiro, nem os dois cômodos da casa nova. Tinha chegado a hora dele acabar. Ela estava no trabalho. Os vizinhos vieram avisar. Quando ela chegou em casa ele já tinha partido. Ela ficou triste. Mas, a tristeza não fez morada eterna.
Mma Makutsi é uma mulher prática. Enquanto o irmão esteve vivo fez por ele tudo que pode. Mas, quando chegou a hora dele acabar teve que respeitar o curso da vida, que quer a gente queira, quer não, há sempre de desaguar na morte.
O que também a alegra é um romance recém surgido, que ela nunca irá saber ter sido parte de uma das investigações de Mma Ramotswe.
No meio do caminho Mma Makutsi tem que viver um pedaço doído. É que o irmão que antes vivia com ela, não poderá aproveitar o chuveiro, nem os dois cômodos da casa nova. Tinha chegado a hora dele acabar. Ela estava no trabalho. Os vizinhos vieram avisar. Quando ela chegou em casa ele já tinha partido. Ela ficou triste. Mas, a tristeza não fez morada eterna.
Mma Makutsi é uma mulher prática. Enquanto o irmão esteve vivo fez por ele tudo que pode. Mas, quando chegou a hora dele acabar teve que respeitar o curso da vida, que quer a gente queira, quer não, há sempre de desaguar na morte.
Mma Makutsi define muito bem a sua filosofia de vida com essas palavras: “Only hard ideas make your head hurt. My ideas are always simple”. (Somente ideias duras fazem a sua cabeça doer. Minhas ideias são sempre simples).
Bebi muito chá e encantei-me com o idioma com cheiro de terra batida que brota da boca das personagens criadas por Alexander McCall Smith. Como quando Mma Ramotswe desabafa, depois de resolver o caso de detetive que envolve o romance de Mma Makutsi: “Why is it there are always these problems and misunderstandings between men and women? Surely it would have been better if God made only one sort of person, and the children had come by some other means, with the rain perhaps” (Por que há sempre esses problemas e desentendimentos entre homens e mulheres? Certamente teria sido melhor se Deus tivesse feito só um tipo de pessoa, e as crianças chegassem de outro jeito, com a chuva talvez. )
um abraço e inté a próxima
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