Benjamin de Chico Buarque




Chico é também escritor, não há dúvidas.
Benjamin é um daqueles livros que sabem ficar em nós, apesar de no começo parecer que não há de ser o caso. 
As primeiras páginas cansaram-me um pouco. Aquela parecia ser a história de um homem incapaz de aceitar a velhice. Só mais um homem velho, mergulhado numa crise de meia idade, um pouco tardia. Seria esse Benjamin? 
Não. Benjamin reinventa as formas de narrar. Conforme mergulhamos no livro percebemos que os fatos, as culpas e as fantasias de Benjamin misturam-se de tal modo, que acabam por deixar marcas profundas no próprio processo de escrita. Simplesmente pelo estilo, Benjamin já valeria a leitura. 
Além disso, o conteúdo da história é interessante e atual. 
Benjamin fala com a velhice, traz até nós o poder da culpa e quando a gente menos espera, atira-nos encima a ditadura militar brasileira, com o mal cheiro e a falta de cor que lhe é devida.
Quando Benjamin dialoga com a velhice, acaba também por meter-nos cara a cara com ela. Uma velhice que não estamos nunca preparados para receber, para hospedar. Uma velhice que habita-nos, que vai intrincando-se em nós, dia após dia, sem pedir licença. Uma velhice com a qual tantos irão tentar travar uma luta insana. 
Benjamin não é um dos muitos que tenta combater a velhice. Ele tenta, de certo modo, ignorá-la. Do mesmo modo que tenta ignorar a si mesmo. Esquecer de si mesmo. Em certa medida. Movido pela culpa e por um fantasma do passado, ele inventa uma paixão, por uma mulher bem mais jovem, que ele julga ser a filha do grande amor de sua vida. Essa paixão inventada é uma tentativa minguada de reviver o que já não existe. É um gesto desesperado de Benjamin para reencontrar a si mesmo, quando ainda jovem. 
As aventuras amorosas de Benjamin têm como pano de fundo a ditadura, que só nos alcança no fim do livro. Quando ela chega até nós, deixa-nos com um aperto no estômago. A ditadura e as suas atrocidades alcançam-nos assim sem pressa, sem moralismo, trata-se apenas da descrição de fatos do passado. Fatos que chegam para explicar as cores e o peso da culpa de Benjamin, que matou a mulher que mais amou em toda a sua vida. 
Chico Buarque soube derramar um estilo que tem força e voz, conseguiu defender verdades sem precisar vestir um manto moralista e deu corpo a uma narrativa que mete na cara do leitor o mal cheiro da culpa e as fragilidades da velhice. Recomendo! 
um abraço e inté a próxima

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