Eu também não quero uma polícia papel higiênico!
Disse o comentador anônimo:
"Bandido
morto não rouba, não mata, não trafica, não estupra, não
molesta, não aplica golpes.
https://www.youtube.com/watch?v=qm6R3-GxSQo
Tá
por fora da realidade hein Carol, a década de 60 já passou minha
filha, estamos em 2016 e não 1966."
Sim,
de fato, estamos em 2016, no entanto, a verdade é que tem horas que
é fácil ficar na dúvida. Afinal, a mesma lógica abusiva, cruel e
injusta que servia à polícia dos ditadores, ainda hoje, serve à
polícia que acha que tudo pode e que não tem que responder por
nada.
No vídeo anexado pelo comentador anônimo, o capitão Conte Lopes aparece a reclamar que hoje a polícia não pode mais fazer
o seu trabalho porque o secretário de segurança e os demais poderosos a usam como se usa papel
higiênico. Ele denuncia que quando os políticos e autoridades são cobrados pelos erros da
polícia, eles atiram os policiais à punição, sem pestanejar.
São
palavras do ex policial militar "(...) hoje, o policial ao
contrário da minha época, tem que contratar advogado (...) porque
a polícia se usa que nem papel higiênico". Conte Lopes
continua a sua argumentação reclamando do fato de que quando o
policial acerta, o secretário de segurança vai até a TV posar de
responsável pelos acertos do mesmo, mas, quando o policial erra ele
está sozinho. Segundo ele, hoje o policial 'não tem o direito de
errar' e 'não tem defesa nenhuma'.
Confesso
que quando ouvi tais palavras ri sozinha e fui por um segundo
habitada por uma esperança frouxa.
Quem
sabe agora, quando os donos do mundo já não conseguem mais garantir
costas quentes à todos os seus cães de guarda, quem sabe agora, os
policiais não abrirão os olhos e perceberão que eles eram, nos
tempos dos ditadores, e continuam sendo, nos dias de hoje, isso
mesmo, o papel higiênico dos donos do mundo. Servem para limpar a
sujeira deles, e estão a seviço deles e só deles. Existem para
limpar a bunda dos poderosos aos quais servem. A polícia abusiva sempre foi o
papel higiênico de uma minoria dominante.
'O
policial não tem o direito de errar' diz o senhor Conte Lopes. Ao
que eu pergunto: e uma chacina é um erro? racismo
institucionalizado é só um erro?
Quando
o coronel diz que o policial não tem direito a defesa_ o que não é
verdade_ é preciso perguntar: de que 'defesa' ele fala? Nos tempos
dele, nos tempos em que ele era policial militar as coisas eram
diferentes, ele mesmo diz. 'Policial hoje é que precisa de
advogado'_ ele diz. Diz também que hoje o policial 'não tem defesa nenhuma'. Mas, espera aí, para o que é que o
policial precisa de advogado se não tem direito a defesa? Um tanto
contraditório, não? Contradição essa que acaba por apontar o que
o ex policial militar realmente diz quando fala em 'defesa'. A
'defesa' em questão não refere-se ao direito legal de explicar-se
perante a justiça, mas sim as costas quentes, sempre. Ou seja, a
defesa de que ele fala é a velha garantia dada aos policiais pelos
poderosos que dominam o país. A garantia de que os policiais podem abusar do micro poder que lhes foi 'dado', lambuçar-se com ele até, sem nunca ter que responder por suas ações.
Voltando
ao vídeo, que oferece tanto material para a reflexão, cito mais um
trecho dito pelo tal senhor que defende que sim, que bandido bom é
bandido morto:
'o
policial sem saber o que faz, sem ter apoio de ninguém e quando ele
faz alguma coisa, começa a imprensa a bater na cabeça dele e ele
não tem para onde correr'.
'O
policial sem saber o que faz' sim, uma vez e mais outra, tantos
policiais sem saber o que fazem, porque é fato, a polícia
brasileira é despreparada e precisa ser desconstruída e refeita. Já passa da hora da polícia deixar de ser um rebanho de jagunços que simplesmente
obedece às ordens do senhor coronel.
'Sem
ter o apoio de ninguém', não é bem verdade. Ainda há muito
'apoio'_ leia-se por 'apoio' o aval, dado pelos poderosos que se julgam donos do mundo, aos
seus cães de guarda. Os quais foram treinados para morder, arrancar
pedaço e até matar, todos os bandidos, desde que despossuídos e
invisíveis, é claro. A verdade é que o policial brasileiro ainda pode usar e usa o poder
de forma irresponsável. O que hoje começa a faltar, principalmente
nos grandes centros do Brasil, é o apoio incondicional do 'dono da
casa'. A versão moderna do coronel, manda matar, mas, não se
responsabiliza pelo matador se ele deixar o corpo aparecer no centro
do mundo.
'quando
ele faz alguma coisa, começa a imprensa a bater na cabeça dele'
Daí,
a polícia despreparada que é também irresponsável, tem que
aprender, de repente, que já não é mais do jeito que era antes,
não dá pra chacinar e deixar os corpos a vista. Agora, quando os
donos do mundo deixam de proteger alguns dos seus jagunços, devido a
pressão da mídia e das organizações que lutam por justiça e por
direitos humanos, os policiais tem que aprender a se responsabilizar
pelos seus próprios atos. Mas como?
Todo
o bêabá do jagunço justiceiro não falava nadinha de
responsabilidade. Muito pelo contrário. 'Os senhores do mundo é que
mandaram eu limpar o mundo a bala'_ alguma coisa pensa no 'pobre'
policial condenado. É que depois de tanto tempo obedecendo e
repetindo, fica difícil saber pensar sozinho. O jagunço
despreparado, que aprendemos a chamar de senhor policial, quando,
raramente tem que responder por suas ações, não sabe o que fazer. Frente a essa nova situação ele se sente encurralado, ou nas
palavras do ex policial militar '[o policial] não tem para onde
correr'.
Ora,
o policial não tem que correr. Ele tem que ficar e responder por
suas ações. Uma polícia que não responde pelo o que faz é abusiva e não tem lugar numa democracia de verdade. Só serve para servir coronéis, ditadores, fascistas...
Mas, então está tudo perdido? Todo policial é cão de guarda de uma minoria que mantém seu poder e seus privilégios às custas da justiça?
Talvez eu seja ingênua. Mas, a verdade é que eu fio que há pessoas que escolhem se tornar policiais porque realmente acreditam que assim estão contribuindo para a construção de um mundo melhor e mais justo. No entanto, enquanto a instituição polícia continuar atravessada pela lógica abusiva, cruel e injusta dos tempos da ditadura e da colonização, esses homens e mulheres bem intencionados serão esmagados e continuarão fazendo pouco mais do que servir de papel higiênico para os poderosos que dominam o mundo.
Mas, então está tudo perdido? Todo policial é cão de guarda de uma minoria que mantém seu poder e seus privilégios às custas da justiça?
Talvez eu seja ingênua. Mas, a verdade é que eu fio que há pessoas que escolhem se tornar policiais porque realmente acreditam que assim estão contribuindo para a construção de um mundo melhor e mais justo. No entanto, enquanto a instituição polícia continuar atravessada pela lógica abusiva, cruel e injusta dos tempos da ditadura e da colonização, esses homens e mulheres bem intencionados serão esmagados e continuarão fazendo pouco mais do que servir de papel higiênico para os poderosos que dominam o mundo.
Precisamos
desconstruir a polícia, o sistema penintenciário e mais do que
isso, precisamos, urgentemente, parar de acreditar na mentira de que
a criminalidade pode ser exterminada a base de bala e tortura. A
solução para a criminalidade passa pela educação e pela real
distribuição de renda. Aliás, a raiz do problema é a desgualdade
social e não uma suposta ruindade intríseca a bandidos que nascem
tortos e hão de morrer tortos.
É
hora de dizer basta para a polícia papel higiênico! A polícia que
precisamos não serve aos donos do mundo, mas, à todo o mundo. É
uma polícia humana e responsável, constituída por seres humanos
capazes de pensar, de agir sem discriminar, sem abusar do poder, e,
consequentemente, uma polícia que não precisa correr ou se esconder
ou lamentar quando chegar a hora de responder pelos seus atos.
um abraço e inté a próxima.
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