Outra vez o documentário '15 Filhos'
Já
escrevi aqui no blog sobre o urgente e afiado documentário '15
Filhos' de Maria Oliveira e Marta Nehring. Quem quiser pode conferir
o post aqui.
Volto
a falar sobre esse documentário porque as vozes daquel@s filhos e
filhas ficaram aqui dentro de mim, me lembrando que a gente não deve
esquecer os estragos da ditadura. É uma obrigação nossa rever a
história oficial.
Cada
vez que um dos filhos e filhas abrem-se, para lembrar da infância
atravessada pela ditadura, não tem como deixar de ver a dor que
carregam e vão sempre carregar consigo. A dor de quem está para
sempre atravessado por uma cicatriz inapagável. A dor de quem traz
na pele, na história do corpo, das memórias e do espírito a
injustiça tamanha que é uma ditadura. Ditaduras quebram, calam,
desumanizam e seus estragos podem atravessar gerações.
Em
15 Filhos uma das filhas diz: "Tanto na França quanto no Chile
eu tinha a minha identidade. Eu era a Marta, a filha de um
guerrilheiro morto". Identidade essa, para sempre atravessada
por uma cicatriz, por uma procura, por um grito inapagável. Trata-se
de uma identidade rasgada. A filha confessa que tentou e ainda tenta
reconstituir um pai. Conta que tentou falar com as pessoas que tinham
vivido com ele. Mas, que sabe que isso não resolve. O pai foi-lhe
arrancado pela ditadura. Essa violência é parte de quem ela é.
Grudou-se em suas circunstâncias.
Mas,
será que ao fim e ao cabo nada resolve?
Uma
solução não há. Não há como ressuscitar os desaparecidos, nem
como devolver os anos de vida dos presos políticos, nem como deletar
as marcas das torturas de que foram vítimas. Como bem coloca uma das
filhas 'o pior da tortura é que é uma dor para a vida inteira. Não
tem como apagar'. Mas, há o que fazer!
Denunciar!
Não calar! Reescrever a história. Pensar sobre o que ocorreu e
porque ocorreu. Por fim, lutar para que a história não se repita.
Uma
das filhas atira em nós um desabafo que me atingiu em cheio: "eu
achava que a sociedade me devia alguma coisa. Porque se não tivessem
deixado o golpe acontecer eu não tinha sofrido isso".
A
sociedade deve-lhe sim muita coisa. Pois, ao fim e ao cabo foi
omissa. Deixou-se levar pela propaganda da falsa revolução. Colheu
os frutos do suposto boom econômico e escolheu fechar os olhos para
o golpe militar brasileiro e para as diversas ditaduras pela América
do sul afora.
A
filha continua: "A dor era tão grande que não tinha como eu me
abrir".
Hoje,
quando essa dor ainda existe, mas também resiste, hoje quando tantas
testemulhas dessa atrocidade passada têm voz, para falar, para
denunciar, espero (talvez ingenuamente) que a gente tenha ouvidos,
pele, coração e cérebro pra ouvir. Espero que a gente escute e
lute para que as injustiças e atrocidades de ontem não voltem a
ocupar o mundo, jamais.
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