bananas de beira de estrada

por Caroline Stampone

Estávamos num ônibus lotado, a caminho de Phnom Penh, capital do Camboja. Parei para comprar bananas. Uma penca muito bem servida por um dólar. Perguntei se podia tirar uma foto. Quer dizer, a minha linguagem corporal perguntou por mim. Ele fez com a cabeça que sim, agitado. Sorriu para a câmera.
Eu fiquei pensando nos alcances de uma vida de beira de estrada, cercada por ovos frescos e pencas de banana. Fiquei pensando nas cadeiras de plástico vazias e nas vidas tão cheias de sofrimento. Fiquei pensando de onde é que vem a força de quem gasta os dias esperando por um amanhã menos sofrido do que o hoje e menos assustador do que o ontem.
Assustei-me com os meus próprios pensamentos, acovardei...
Acabei invencionando um outro começo para aqueles desconhecidos, agora também um pouco meus.
Invencionei para eles um começo sem ditador nenhum. Um ontem sem milhares a perder a vida para a miséria ou para o Khmer Vermelho. Invencionei um hoje onde as pessoas têm a chance de existir inteiras, ao invés de tentar juntar os restos do que sobrou. Um hoje em que aqueles desconhecidos vendem bananas na beira da estrada porque querem e não por falta de opção. Eles decidiram que era uma chance de conhecer gente, ver a cara de gente de outros cantos que nem euzinha. Fiz de conta que eles não estavam ali por serem vítimas da pobreza, vítimas de um dos maiores genocídios da história da humanidade, vítimas do descaso de tantos, vítimas do meu descaso também... Fiz de conta e segui viagem, carregando na bolsa as bananas docinhas.

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